A escola que temos e a escola que queremos? (I)

Se existe um lugar por onde todos nós, ou pelo menos, muitos de nós, mesmo enfrentando a exclusão, a fome, a pobreza , a ditadura , a ausência de  política pública, ainda assim,  quase todos nós, humanos desde a mais tenra idade,  em boas ou péssimas situações de vida, todos andamos por lá,  pela escola.

A escola deveria ser o lugar da descoberta, do conhecimento, do interesse por algo, alguém, alguma coisa em algum lugar, por algum motivo. A escola deveria ser um impulsionador da curiosidade, do raciocínio, do pensamento, da percepção, da pergunta, do questionamento, do pensamento vivo.

Deveria ser ainda, a escola, o lugar dos encantos das línguas e das linguagens, do mistério das ciências, dos cálculos finitos e infinitos, da Arte em todas as suas expressões, da Historia dos vencidos e dos vencedores, da Geografia Humana de Milton Santos, da sociologia, da filosofia, da astronomia, da oceanografia , da agricultura e da gastronomia, da ecologia e da amizade, de tudo que possa ser compreendido do micro ao macro até uma consciência planetária.

A escola do desenvolvimento integral do ser humano, em todos os seus níveis cognitivo,  social, mental e emocional, inclusive,  preconizado nas Leis de Base da Educação dos países democráticos.

A nossa presença no Planeta Terra e nossa relação com todos os seres e organismos  vivos que nele habitam  nos impulsiona a um mergulho ao auto conhecimento, uma compreensão mais profunda dos nossos sonhos, dos nossos talentos, das nossas habilidades e competências, e,  principalmente, das nossas necessidades e dos nossos sentimentos , o que de fato deveriam ser desenvolvidas também na escola, as chamadas ” habilidades essenciais”, afinal toda a burocracia, investimento de milhões em livros didáticos e manuais idênticos para toda gente, senão são desenvolvidas as tais metas, a  escola não cumpre sua função de existir, desta feita, a escola está mesmo fora da lei José!

Contudo, se as habilidades estão previstas, porque o insucesso? Será porque estão  deslocadas do contexto real, da vida cotidiana e única, pessoal e intransferível.

O  mundo que vivemos hoje, a maneira como tratamos os outros seres humanos, os animais, as florestas , os rios, toda vida pulsante, este  nosso comportamento e atuação é o verdadeiro resultado do que nos formamos e nos tornamos,  e indubitavelmente a escola é em boa parte responsável por isto.

O currículo é o mundo e a escola o minimiza , descontextualiza, fragmenta, retira o senso crítico, a criatividade, a diversidade e a veracidade.

Será então que esta escola vigente desperta, fomenta  e desenvolve todos estes potenciais humanos?  Passamos mais de uma década, sentados em carteiras escolares (bancos escolares)  diariamente, na mesma posição , horas e horas, dias e dias, meses e meses, anos e anos, alguns obedientes, outros indisciplinados, uns depressivos outros eufóricos, alguns excluídos, outros medicados e assim vamos carregando esta escola que já não nos serve mais, pelo.menos não mais para instruir, fazer calar, obedecer,decorar e  repetir informações por que um dia você irá usar, será mesmo ? Qual currículo precisamos construir?

A escola que temos hoje está pautada e solidificada no paradigma da instrução, há  um  professor com conteúdo estanque e pré definido que ofertará a todos e todas no mesmo espaço e tempo e do mesmo modo, independente de quem sejamos e como processamos ou aprendemos, de qual sinstesia preciso para de fato, apreender, e depois das aulas tudo acabará numa prova , um teste que gerará uma nota, um número, um rótulo. E, há quem diga, que é preciso que seja assim para que sejamos “alguém na vida” .

Ora, mas,  já não somos alguém na vida? E, sendo assim, não podemos apenas ser alguém  e viver, intensa e plenamente a Vida, em toda sua complexidade ?

Mas, infelizmente  a escola que temos hoje é a escola do século XIX , como diria o professor português José Pacheco mudamos  apenas o mobiliário, trocamos o pó de giz pela caneta digital, a lousa pelo  data show,  mas o modelo solitário da cela de aula,  o paradigma da “ensinagem”  manteve se de duzentos anos atrás.

O que justifica  crianças e adolescentes em fase de crescimento, com comportamentos diferentes, sentadas diariamente durante horas, numa cadeira nada ergonômica e de preferência calados, parece-me insalubre.

Diante a evolução humana, a tecnologia que nasce do fogo dos primórdios traz luz a todos os avanços que nos trouxeram  até aqui . A cada “Era”  tudo se transformou e descobertas foram surgindo,  e nos últimos dois séculos a população mundial avançou terrivelmente em todas as áreas, claro que aliada aos seus valores, uns investindo em pessoas, cura, preservação, restauração, regeneração, outros investindo em mísseis, em armas, em bombas.

Foram perceptíveis a transformação na sociedade e que nos afetariam diretamente  se não tivessem se modificado, por exemplo, um dentista hoje não extrai mais um dente como no século XIX, com as mãos e sem anestesia , os médicos não atuam  mais como na época das pinturas  de  Rembrandt, ninguém voa mais no avião do Sacadura Cabral e do Santos Dumont ainda que tenham sido inovadores, em duas épocas. As correspondências, outrora, demoravam  meses pra chegar de um lugar à outro, pois, poderiam ser enviadas por um mensageiro  a cavalo, ou mesmo num malote  de navio, no entanto  hoje nos comunicamos em tempo real e até os bebês já vivenciam está prática do século XXI, comunicação visual, disponível  por áudio, imagem, documental, enfim, as informações e instruções estão disponíveis.

(A continuar no próximo número)

 

Janaina Chichorro
Mãe, Professora, Atriz, Colaboradora do Prof. José Pacheco

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