Ambientes de crescimento

Desde que me lembro, a ideia de progresso, de evolução, sempre me fascinou. Melhor, desde garoto (adolescente) que a considerava uma força interior que me impelia a fazer mais e melhor. E essa ideia não se restringia a mim. Ela era tanto mais encantadora, quanto pudesse contribuir para um mundo melhor. Contudo, na altura, talvez não tivesse a noção de como pudesse agir, o que fazer para dar esse contributo.

Dado que a vida contém em si princípios subjacentes que a governam, quis o crescimento (um desses princípios), que me levasse à aprendizagem dos meios e à compreensão de como o poderia fazer.

No meu percurso de vida, trilhei diversos caminhos, tendo vindo a abraçar a Educação. Vejo-a como um pilar ímpar na formação dos indivíduos e das sociedades. Creio que será consensual que é através desta que se formam os múltiplos intervenientes das mais diversas profissões, bem como o sentido de civilidade transversal a todos eles.

E nessa missão de educar – no meu entender a mais nobre das profissões, onde a beleza desta profissão encontra a sua génese na origem da própria palavra: educere, que significa “extrair”, “fazer sair”, “tirar de dentro”, de onde se percebe um movimento implícito de dentro para fora. Daqui se pode facilmente concluir que a missão do educador – aquele que educa, é a de cuidar, facilitar o processo/movimento de extração do potencial, dos recursos internos de cada educando. Mas cabe a cada educando permitir-se/cultivar que o florescer do seu potencial decorra na máxima otimização da força evolucionária. Para tal apenas é necessário regar a raiz. A força evolucionária fará com a sua árvore floresça e dê frutos.

Sejamos mais concretos. Os alunos no agrupamento onde sou docente (Agrupamento de Escolas Dr. Alberto Iria, em Olhão), apesar de ser um agrupamento de ensino básico, fazem pesquisa na consciência. Fazem pesquisa na consciência? Perguntarão. Sim, fazem! Passo a explicar.

Os alunos, de forma voluntária, decidem capacitarem-se na técnica de Meditação Transcendental – uma técnica muito simples e natural, que lhes permite de forma sistemática, experimentar os níveis mais profundos da sua própria consciência. Muito cedo os alunos adquirem a habilidade de ir além de qualquer limitação. Não necessitam de qualquer recurso externo a si. Apenas os seus próprios recursos internos.

Além da experiência direta da forma mais simples da consciência, os meus alunos têm também a compreensão intelectual daquilo que experienciam, dos benefícios que adquirem na sua vida diária, tudo isto com recurso a conhecimento/evidências científicas. Neste processo, é prática minha, como processo de aferir o progresso, a recolha de vários indicadores, quer qualitativos, quer quantitativos.

Nessa recolha, há algumas semanas, aos meus alunos do 7º ano, cuja média de idades é de 12 anos, coloquei-lhes três questões, às quais tinham que responder por escrito: 1) “O que sentes quando meditas?”; 2) “O que é para ti um pensamento e de onde achas que eles vêm?”; 3) Na tua opinião, qual é o propósito da vida/existência humana?”

Porque as respostas são de tal forma reveladoras e de grande profundidade, que transcrevo aqui algumas.

1) “O que sentes quando meditas?”

– “Quando eu medito, eu sinto que a minha mente vai mais além” (Inês);

– “Quando medito experimento um campo de muitas possibilidades. Sinto-me mais calma e relaxada. Tenho mais ânimo e energia para começar o meu dia e sinto-me feliz!” (Constança)

– “Sinto-me feliz, como se estivesse num mundo de paz dentro de mim.” (João);

– “Eu quando medito sinto-me bem, pois sinto-me num espaço sem nada, sem pensamentos, só a paz e a tranquilidade.” (Leonardo);

– “Sinto uma onda de felicidade” (Liz).

2) “O que é para ti um pensamento e de onde achas que eles vêm?”

“…eu acho que os pensamentos são idealizados na nossa mente, mas eles vêm de dentro de nós ou de um campo de infinitas possibilidades.” (Leonardo)

 

3) Na tua opinião, qual é o propósito da vida/existência humana?”

“Na minha opinião, o propósito da vida é vivê-la! Com intensidade e alegria, fazendo o bem sem olhar a quem. E ser uma pessoa melhor a cada dia que passa, tentando passar essa bondade aos outros ao nosso redor, que para mim é a “chave” da felicidade.” (Constança)

 

Pergunte-se, o bem-estar, a felicidade, a maturidade e os valores morais nos adolescentes e jovens são importantes para o sucesso do processo ensino-aprendizagem? Creio que a resposta será indubitavelmente sim!

Afinal de contas, o progresso é algo não é nada de complicado nem de difícil alcance. Está ao alcance de homens e mulheres de visão e que entendem ser necessário agir, contribuindo para uma sociedade/mundo mais saudável e feliz.

Termino citando Jorge Cotovio: “Neste quadro, cabe ao educador criar “ambientes de crescimento” alimentados pelo amor, pelo estímulo, pelo ânimo, pela confiança, pela segurança emocional, que levem o educando a sentir uma enorme satisfação por fazer as coisas por si próprio.”

 

Paulo Côrte-Real, coordenador do projeto Tempo de Silêncio com a Meditação Transcendental

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