“Compete à educação a nobre tarefa de suscitar em todos, segundo as tradições e as convicções de cada um, no pleno respeito do pluralismo, essa elevação do pensamento e do espírito até o universal e, inclusive, uma espécie de superação de si mesmo.”
Jaques Delors, 2010
Ao longo dos tempos, diferentes modelos educativos têm respondido às diferentes necessidades das sociedades.
Às comunidades paleolíticas eram requeridas as habilidades de caça e a força física; na Idade Média, a formação cavalheiresca e guerreira; na sociedade industrial, o ensino para o mercado de trabalho. Que competências desenvolver nas sociedades contemporâneas?
O contexto é o planeta, tão imenso quanto diverso; tão diverso quanto a necessidade de inclusão. A escola para todos tem o dever de dar oportunidade a cada ser humano, único e irrepetível, de realizar as suas potencialidades. Contudo, a educação tem privilegiado o desenvolvimento das áreas cognitivas – do intelecto racional, deixando à margem uma multiplicidade de competências não cognitivas – físicas, sociais, emocionais, criativas, intuitivas e espirituais, inatas da natureza do ser humano, num modelo educacional que leva o aluno a conhecer uma imensidão à sua volta, mas muito pouco do seu planeta interior, das suas motivações, do que o realiza a nível pessoal e social, como cidadão e membro produtivo da sociedade.
No Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, 2010, “Educação um Tesouro a Descobrir”, Jaques Delors afirmou que somos levados a revalorizar as dimensões ética e cultural da educação e, nas suas palavras “…convém começar pela compreensão de si mesmo numa espécie de viagem interior permeada pela aquisição de conhecimentos, pela meditação e pelo exercício da autocrítica”.
Documentada cientificamente, a Meditação Transcendental em contexto escolar, revela-se uma ferramenta inovadora na promoção da aquisição de competências para melhorar o bem-estar e, embora não direcionada para competências cognitivas, indiretamente contribui para o seu desenvolvimento. Trata-se de uma prática simples e de fácil implementação, à qual a nossa Escola – EB123/PE Bartolomeu Perestrelo, no Funchal – teve o privilégio de aderir em 2019, numa extensão do Projeto FRIENDS. Sob a orientação do Dr. Eduardo Espírito Santo, foram dados os primeiros passos e envolvidos no projeto, alunos – com maior incidência no 1º ciclo, professores, encarregados de educação e funcionários. Em março de 2020, estavam ministrados 3 cursos com um total de 79 alunos com menos de 10 anos; 20 alunos maiores de 10; 28 professores; 6 pais e 3 funcionários.
Já documentado no Relatório FRIENDS, o que é sentido na Escola: os resultados são francamente positivos e animadores. Durante os 10 a 15 minutos de silêncio e repouso no início e no final da atividade letiva, os alunos acalmam e a concentração melhora, numa preparação interna para a aprendizagem. O ambiente da sala de aula torna-se mais propício ao processo de ensino e aprendizagem, há mais motivação do professor perante alunos mais motivados. Destaca-se um aumento a nível da criatividade pela forma como os alunos se expressam quer no desenho/artes manuais quer na escrita. As relações intra e interpessoais melhoram, numa clara promoção da inclusão e o ensino torna-se mais humanizado. Ganham-se novas competências para uso ao longo da vida a nível pessoal e social, contribuindo para o bem-estar individual e geral, numa sociedade que se pretende melhor e mais sustentável.
Presentemente, é com grande satisfação que temos todo o 1º ciclo e duas turmas de 5º ano, e respetivos professores, integrados no projeto Tempo de Silêncio/MT da Cátedra UNESCO Educação para a Paz Global Sustentável da Universidade de Lisboa, em mais um passo em frente na educação em prol do bem comum.
Maria do Rosário Brazão