Escolas são pessoas

É a aprendizagem mediada pelas perguntas dos alunos que gera respostas cheias de mundo por descobrir. Um diálogo e uma discussão viva e dinâmica, como escreveu Paulo Freire.

Os homens educam-se em comunhão, mediatizados pelo mundo[1]. É importante desenvolver o compromisso e vínculo com o aluno e a comunidade, pois aprendemos na relação com o outro. Pensar de forma crítica, questionar, conectar e refletir sobre os saberes – é a reflexão que liberta.

A escola, tal como tradicionalmente a vemos, hoje já não serve mais, está desatualizada. Aprender, não tem a ver com ouvir, tem a ver com fazer e ser. As aulas são com os alunos, e não para os alunos. Urge que as crianças de forma autónoma e responsável, construam o seu projeto de aprendizagem em comunidade[2].  Humanizar a aprendizagem é preciso! Inspirada pelo Diretor do Agrupamento de Escolas Manuel da Maia, em Lisboa, com o projeto piloto Humanizar a aprendizagem- Um caminho para as comunidades de aprendizagem, https://agescolasmanuelmaia.net/ partilho e reforço o caminho feliz que assim se inicia nesta escola – o sonho do projeto do Amigo José Pacheco iniciado nos idos dos anos 70 na Escola da Ponte, na Vila das Aves e cujo projeto educativo se baseava na autonomia dos alunos.

Mas já antes Almada Negreiros escrevia – Quando eu nasci, todos os tratados que visavam salvar o mundo, já estavam escritos. Só faltava salvar o mundo[3] Edgar Morin – esse grande Mestre ainda connosco, fala-nos numa autoridade dos professores que está em crise porque a escola não tem conseguido adaptar-se à nova autonomia dos jovens, sendo errado privilegiar uma cultura científica, tecnocrática, sacrificando uma cultura humanista… é necessária na escola, a realização como indivíduos, nas atitudes, habilidades e construir vínculos dentro de uma comunidade.

Por outro lado, o Prof. António Nóvoa afirma que o mais importante é libertar as energias que existem nas escolas e nos professores. Precisamos conhecer, estudar, partilhar e dar visibilidade a experiências, por vezes ainda incipientes, mas que são o embrião de novas realidades[4]. Estas experiências já nasceram, em dezenas de escolas e agrupamentos em Portugal – a aprendizagem precisa também considerar o sentir e assim, o trabalho do Prof. António Damásio no livro “Sentir & Saber – A caminho da consciência”[5], explica que não se pode saber sem sentir e que na prática do sentir há também um conhecimento: a aprendizagem não pode ser apenas saber…

Após a minha formação em tutoria na Comunidade SerÁgua, em Vila do Conde, com a Janaína Chichorro, colaboradora do Amigo José Pacheco, apercebi-me do quanto é necessário conceber uma nova construção social de aprendizagem, que a todos garanta o direito à educação. Aqui, ganhei motivos para ser esperançosa. Neste pressuposto, na comunidade de aprendizagem o professor constrói projetos com pessoas, que são os alunos, a partir de necessidades, desejos e sonhos de cada um, na construção de projetos de vida. O professor ajuda o aluno a planificar a sua vida.

Agostinho da Silva disse-nos tão bem que O mestre é o homem que não manda – aconselha e canaliza, apazigua e abranda. Não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade. Não interessa vencer nem ficar em boa posição. Tornar alguém melhor, eis todo o seu programa[6].

Observo erguerem-se práticas protagonizadas por educadores que perceberam que escolas não são edifícios, são pessoas, e que não se trata de levar a comunidade à escola ou de fazer visitas de estudo á comunidade pois não se visita a própria casa…

 

Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender.

Paulo Freire

 

 

Fátima Espírito Santo

[1] Freire, Paulo, “Pedagogia do oprimido”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
[2] Mocho, Luís, in Boletim Felicidade em Movimento, nº7, setembro de 2023.
[3] Almada Negreiros, José, “A Invenção do Dia Claro”, Lisboa, 1921.
[4] Entrevista de Paulo de Camargo, 28 de julho de 2023.
[5] Damásio, António, “Sentir & Saber – A caminho da Consciência”, Temas e Debates, 2020.
[6] Silva, Agostinho da, “Considerações sobre um tema”.

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