Para uma nova consciência planetária

transição para um novo ciclo histórico só se pode efectuar na ‘obscuridade’, de acordo com uma lei cósmica que, nos mistérios de Elêusis, era representada pelo simbolismo do grão de trigo, a que se faz referência no Evangelho (1) e que os Alquimistas figuravam pela ‘putrefacção’ e pela cor negra que assinalava o começo da Grande Obra. Por outras palavras: “Quando as trevas são mais densas é que desponta a luz do Sol”. Mas, será sempre assim? E será sempre possível ultrapassar uma situação extrema de ‘crise’ (2) evitando uma catástrofe mundial?

Os crimes hediondos contra a natureza e contra o ser humano fazem-nos temer o pior. Mas a ideia de que um número relativamente pequeno de pessoas possa ser suficiente para que se verifique uma ‘mudança de consciência planetária’ abre-nos uma janelinha de Esperança. E essa ideia foi-nos, de certo modo, sugerida por uma referência de Edgard Cayce ao conhecido episódio de Sodoma e de Gomorra, em que Abraão, regateia com Deus a possibilidade de salvar as cidades (3), decidindo o Senhor que bastaria apenas a consciência iluminada de ‘dez’ justos (que, infelizmente, não existiam) para que isso fosse possível e se mudasse a consciência tenebrosa de muitos milhares ou até de milhões!

Talvez a mesma ideia possa transitar para o nosso tempo. O que nos leva a reflectir melhor no conceito científico de ‘massa crítica’ (4), que pode também ser extensivo à humanidade. Assim, por exemplo, verificou-se que só a partir de uma certa quantidade de urânio é que poderá haver uma explosão. E analogamente, podemos admitir que algumas almas mais avançadas devam constituir os  ‘precursores’, e possam funcionar como ‘massa crítica’ da humanidade para levantar o  seu nível de consciência. Mas como devem actuar? Através do pensamento, do sentimento e da Lei da Ressonância. À semelhança de um diapasão que, vibrando numa determinada frequência, coloca os outros a vibrar na mesma frequência. Porém, sendo ainda muito poucos, em comparação com o resto da humanidade, os que revelam (ou estão mais próximos de revelar), o perfil do Homem Novo, quem sairá vencedor desse confronto? Se um por cento de luz se confrontar com noventa e nove por centro de trevas quem sairá vencedor? A luz ou as trevas? À primeira vista, são as trevas. Mas, “quando se acende uma lâmpada, mesmo de fraca intensidade, numa vasta sala, a luz, embora frouxa, não vai permear toda a sala”?

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(1)  “Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer fica só. Mas, se morrer, dá muito fruto” (João, 12-24)

(2) A palavra ‘Crise’ relaciona-se etimologicamente com o verbo grego ‘Krinô’, que significa ‘julgar’. Assim, ‘crítica’ significa ‘julgamento’ (‘crítica literária, crítica política, etc.). Mas pode significar também, um ‘estado muito grave’ (‘saúde crítica’, situação crítica). É neste sentido que talvez se possa dizer que uma ‘crise extrema ou final’ é, de certo modo, um ‘julgamento final’.

(3) Génesis, 19, 26

(4) Considera-se ‘massa crítica’ a quantidade mínima de substância necessária para que possa ocorrer um determinado fenómeno.

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(José Flórido – “Reflexões”)

José Flórido nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1936. Professor, escritor e conferencista.

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