Paz e saúde mental: uma relação a reforçar

Vários são os fatores que podem ter um impacto significativo na saúde mental. Estes fatores abrangem vários aspetos da vida das pessoas e das suas interações com a sociedade. Entre os principais fatores sistémicos e sociais podemos identificar os determinantes sociais da saúde. Trata-se das condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham, atuam e envelhecem. Estes fatores incluem o estatuto socioeconómico, a educação, as oportunidades de emprego, o acesso aos cuidados de saúde, as redes de apoio social, a segurança da comunidade, as normas culturais, as ameaças ambientais e ecológicas e as condições políticas. As disparidades nestes determinantes podem ter um impacto significativo na nossa saúde mental.

É essencial abordar estes fatores sistémicos e sociais para promover a saúde mental e criar ambientes que promovam o bem-estar individual e coletivo, a igualdade em todos os aspetos da vida em comum, paradigmas económicos e ecológicos verdes e sustentáveis, e o acesso a recursos e oportunidades para todos e todas.

É aqui que entram as complexas, mas importantes relações, entre a paz e a saúde mental.

A paz não é um tópico predominante quando se fala em saúde mental. Aliás, a maioria das narrativas existentes no âmbito da saúde mental não desafia as raízes e o paradigma básico dos nossos sistemas sociais, económicos e políticos e vê a doença e doença mental como algo Intra individual e estritamente subjetivo.

A paz é um bem público global.

Foi definida como uma condição política que assegura a justiça e a estabilidade social através de instituições, práticas e normas formais e informais. A paz positiva é frequentemente associada à justiça social, à igualdade e à disponibilidade de recursos e oportunidades para todos os membros da sociedade.

É vista a diferentes níveis: paz interior quando ao nível Intra individual, paz relacional quando se dirige à família, amigos, vizinhos, colegas; paz relacional e comunitária ao nível das comunidades e da sociedade; e paz global ao nível nacional e internacional dos Estados.

As questões que afligem a sociedade, como a segurança nacional e pessoal; a perturbação social, económica e ambiental; o bem-estar das pessoas e a distribuição de recursos; as relações entre nações, classes sociais, religiões, géneros, gerações, raças, posições políticas; entre muitas outras, podem ser sintetizadas como raízes da, e para, a paz.

A paz sustentável continua a ser difícil de alcançar, a não ser que se dê atenção aos aspetos psicossociais e estruturais. Trazendo esta perspetiva da paz para fazer repensar as abordagens tradicionais de saúde mental, poderemos ajudar a trazer um conceito mais alargado de saúde psicológica. Esta visão mais ampla da paz considera-a como um pré-requisito para uma saúde mental positiva. Juntas, poderão contribuir para mais saúde – para cada um/a de nós individualmente, e para todxs, coletivamente.

 

Helena Águeda Marujo
Universidade de Lisboa

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