Educar para a paz e o bem-estar: contributos práticos para uma sociedade mais equitativa

Hoje questionamo-nos de que forma pode a educação para a paz e para o bem-estar ajudar-nos a caminhar para uma sociedade mais equitativa.

Isto é especialmente relevante em momentos da nossa história comum em que, em Portugal e pelo mundo, a paz está ameaçada de tantas formas, o bem-estar é idolatrado, mas sobretudo do ponto de vista individual, e o sentido do coletivo e do bem-comum é tantas vezes esquecido.

Educar deverá ser sempre, estou em crer, apoiar na construção de seres humanos que saibam viver com, e em felicidade, de forma pacifica e harmoniosa, e contributiva para uma sociedade mais justa, coesa e igualitária. Aliás, não há bem-estar nem paz sem justiça.

Gosto de falar a partir do lugar da ciência, e esta tem provado que a educação para a paz e para o bem-estar podem aumentar significativamente a equidade, promovendo a compreensão, a empatia e as competências de resolução de conflitos, ao mesmo tempo que promovem uma sociedade mais inclusiva e justa.

Estas abordagens educativas equipam os seres humanos com as ferramentas necessárias para estar atent@s e combater a desigualdade, promover a harmonia social e capacitar os grupos marginalizados e tod@s os excluídos de acesso à vida digna.

Vejamos, de forma prática, como a educação para a paz e o bem-estar podem contribuir para a equidade:

Por um lado, promovendo ambientes de aprendizagem inclusivos no combate aos preconceitos e à discriminação. Com efeito, a educação para a paz enfatiza o pensamento crítico, que ajuda @s alunos a identificar e desafiar preconceitos e estereótipos que perpetuam as desigualdades.

Por outro promovendo a empatia e a compreensão, dado que ao incentivar @s alunos a compreenderem diversas perspetivas e experiências, a educação para a paz cultiva a empatia e o respeito pelo próximo, criando ambientes de aprendizagem mais inclusivos e acolhedores. Ainda, porque a educação para a paz e para o bem-estar pretendem promover a justiça social. Com efeito, a educação para o bem-estar, particularmente quando integrada na aprendizagem sócio emocional (ASE), ajuda @s alunos a desenvolver competências para reconhecer e lidar com injustiças sociais e defender mudanças positivas.

Não existe paz nem bem-estar sem um sentimento de pertença. Assim, a educação para a paz e a ASE podem também ajudar a criar um sentimento de pertença e ligação entre @s alunos e toda a comunidade escolar, o que é particularmente importante para os grupos marginalizados que podem sofrer exclusão ou discriminação.

A educação nestas áreas implica também um aprimoramento de competências socio emocionais conducente à resolução de conflitos e à mediação. Este tipo de educação capacita as pessoas com as competências necessárias para resolver conflitos de forma pacífica, negociar eficazmente e construir consensos, competências, essas essenciais para lidar com divergências e construir relações positivas. Na base desta capacidade está o desenvolvimento da autoconsciência e a regulação emocional. Quer a educação para a paz, quer a educação para o bem-estar, ajudam as comunidades educativas a compreender as suas emoções, a desenvolver a autoconsciência e a gerir o stress, fatores cruciais para lidar com situações desafiantes, desenvolver a resiliência, ativar mecanismos de coping e promover uma saúde mental positiva. Isto é particularmente importante para aqueles e aquelas que experienciaram ou experienciam traumas ou marginalização.

Educar para a paz e o bem-estar significa também facilitar o empoderamento de grupos marginalizados, nomeadamente através da liderança e da participação juvenil.

Capacitar os jovens para se tornarem agentes de mudança, fomentando iniciativas lideradas por jovens e promovendo a sua participação ativa nos processos de tomada de decisão, é essencial neste caminho de equidade através da pedagogia da paz e do bem-estar. Por aí também se reforça a cidadania inclusiva. Ao ensinar sobre direitos humanos, justiça social e princípios democráticos, a educação para a paz pode capacitar todas e todos da comunidade escolar para se tornarem cidadãos e cidadãs  activ@s e empenhad@s que defendem a equidade e a inclusão, em especial ao enfrentar as desigualdades sistémicas e ao abordar de forma clara as causas profundas da desigualdade, como a pobreza, a discriminação e a falta de acesso a recursos, promovendo o pensamento crítico, a sensibilização para a justiça social e a ação colaborativa. Finalmente, e respeitando a extrema complexidade inerente a todos estes processos, a educação para a paz e o bem-estar acontece criando climas escolares positivos. Tal inclui práticas restaurativas nas escolas, com foco na redução do bullying e da violência e na reparação de danos, na resolução de conflitos de forma construtiva, na construção de relações saudáveis e autênticas, promovendo a empatia, o respeito e as competências de resolução de conflitos, numa geografia humana em que todas e todos são aceites e validados, criando um ambiente mais positivo, seguro, equitativo, respeitador e acolhedor para tod@s.

Ao integrar estes princípios nas práticas educativas, a educação para a paz e o bem-estar pode desempenhar um papel vital na criação de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos e todas têm a oportunidade de prosperar, florescer e realizar os seus talentos e virtudes, em prol do bem-comum.

Marujo, H. Á. (in press). Wellbeing Education and Peace Education: Complexities and benefits of a synergistic relationship. In S. Roffley (Ed.) Handbook of Wellbeing in Education: Research Transforming Practice. Edward Elgar Publishers.

 

Helena Águeda Marujo
Cátedra UNESCO em Educação para a Paz Global Sustentável
Universidade de Lisboa

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